Fraturas patológicas
As fraturas ósseas podem estar associadas a processos patológicos que, se não analisados cuidadosamente por um especialista, podem resultar em condutas ortopédicas inadequadas. Por este motivo, até mesmo as fraturas simples devem ser avaliadas em busca de sinais que possam indicar a possibilidade de doenças que possam estar relacionadas àquele desfecho.
A fratura patológica é decorrente de uma alteração da estrutura óssea, independentemente da natureza do processo que a desencadeou. Estão aí incluídos os diversos tipos de tumores ósseos já descritos na literatura médica, bem como distúrbios osteometabólicos, processos degenerativos, distúrbios circulatórios, inflamações, infecções, disgenesias ou displasias e outras neoplasias que podem se iniciar em outros tecidos e acometem o osso secundariamente.
Displasias Ósseas
A alteração da morfologia óssea, congênita ou hereditária, pode provocar deformidades e/ou fraturas. Dentre as principais doenças, algumas destacam-se pela frequência e alterações anatômicas que apresentam:
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Osteogênse imperfeita: doença hereditária, que incide especialmente nos ossos longos, que crescem sobretudo no sentido longitudinal, ao nível da linha fisária, na qual a cartilagem se transforma em tecido ósseo. O crescimento transversal, deficiente, altera a modelagem dos ossos, que se tornam finos e frágeis, sujeitos a fraturas múltiplas.
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Osteopetrose: alterações na linha fisária dos ossos de origem endocondral levam a lesões em virtude de falha na atividade de reabsorção fisiológica dos ossos. Os pacientes apresentam anemia profunda, ossos mais densos, porém com perda da elasticidade, levando às fraturas dos ossos.
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Displasia fibrosa mono ou poliostótica: a substituição parcial do osso por proliferação fibrosa reduz sua densidade, levando à progressiva maturação da ossificação. As consequências são redução da densidade, deformidade e, em alguns casos, fratura.
Alterações Metabólicas
Para que os ossos mantenham suas estruturas normais, os mecanismos de aposição e de reabsorção precisam estar em equilíbrio. Estes mecanismos são mais intensos na primeira década da vida e tornam-se progressivamente menores com o avançar da idade, embora sempre presentes ao longo de toda a vida.
Diversos fatores estão relacionados ao metabolismo ósseo, como a atividade muscular, alimentação, com especial atenção às vitaminas A, C e D, bem como o cálcio, fósforo, magnésio e zinco e fatores hormonais. Alterações em um ou mais destes elementos contribuirão para maior predisposição ao desenvolvimento de doenças ósseas metabólicas, como por exemplo:
Osteoporose: importante e frequente causa de fraturas, é causada pelo enfraquecimento dos ossos decorrente da perda óssea. Uma falha no processo de renovação dos ossos, fazendo com que a renovação seja menos efetiva que a perda óssea, faz com que uma simples queda ou mesmo tensões leves, como curvar-se ou tossir, possam causar uma fratura. A falta de atividade muscular, sedentarismo, alimentação com aporte proteico insuficiente, além de alterações de glândulas endócrinas, como hipertireoidismo, adenomas da hipófise, gigantismo e acromegalia, síndrome de Cushing e outros, são algumas das causas da osteoporose, ou contribuem para o seu agravamento.
Osteomalácia : também conhecida como ”raquitismo do adulto”, pode ocorrer pela redução de absorção intestinal, como nos casos de pacientes que sofreram grandes ressecções intestinais ou por deficiência alimentar. As fraturas, nestes casos, são decorrentes da maior fragilidade óssea, decorrente da deficiência mineral.
Hiperparatireoidismo: as fraturas são geralmente o primeiro sinal desta doença, sendo importante causa de fratura em osso patológico. A principal causa é o adenoma de uma das glândulas paratireoides. Se não diagnosticado e tratado precocemente, o hiperparatireoidismo primário pode levar à desmineralização progressiva e generalizada dos ossos, com múltiplas fraturas.
Infecções: Dentre os processos infecciosos ósseos, destaca-se a osteomielite hematogênica, mais comum em crianças e adolescentes, que compromete principalmente ossos longos, com maior frequência nas metáfises do fêmur e tíbia. Um outro processo infeccioso importante é a tuberculose óssea, cuja lesão osteolítica pode levar a fraturas.
Neoplasias
Os tumores que acometem os ossos dividem-se em três grandes grupos: primitivos ou primários do osso, as metástases ósseas e as lesões pseudo-neoplásicas ou pseudotumorais. Independentemente de serem benignos ou malignos os tumores que acometem os ossos podem levar a fraturas. Ossos com maior sobrecarga, como as vértebras ou os ossos de membros inferiores, são os mais sujeitos.
Qualquer processo tumoral pode resultar em fratura óssea, porém, alguns o fazem com mais frequência. Dentre os tumores benignos, destacam-se o osteblastoma, o encondroma, o fibroma condromixóide, o tumor gigantocelular e o hemangioma.
As neoplasias malignas intraósseas primitivas também apresentam possibilidade de fratura, sobretudo as formas osteolíticas do osteossarcoma, o sarcoma de Ewing, o condrossarcoma, o hemangioendotelioma maligno e as lesões osteoliticas do plasmocitoma / mieloma. Outros tumores como os linfomas intra-ósseos e os menos frequentes, como o fibrossarcoma, fibrohistiocitoma maligno e o lipossarcoma também podem se manifestar com fraturas.
A principal manifestação de fratura em osso patológico ocorre em neoplasias secundárias ou metástases ósseas. As mais frequentes, no homem, são originárias da próstata e dos pulmões. Na mulher, são as de origem mamária e pulmonar. Metástases ósseas de carcinoma de rim e tireoide também são frequentes causadores de fraturas patológicas.
No caso de lesões pseudo-neoplásicas, a que mais frequentemente causa fratura é o cisto ósseo. Outra lesão pseudo-neoplasicas que pode fraturar é o fibroma não ossificante, em virtude de seu progressivo aumento de volume, quando situado na metáfise do fêmur ou da tíbia.